sábado, 31 de março de 2012

educação para a saúde


Educação Para a Saúde

Café e Chá

Ao pequeno almoço, após as refeições ou durante as merendas, o chá ou o café tornaram-se bebidas, desde há muito tempo, comuns nos nossos hábitos alimentares. Muito apreciados pelo seu sabor e aroma, a sua popularidade tem sido objecto da existência de numerosos estabelecimentos tipo "cafetaria" em todo o mundo, tornando-se o seu consumo muitas vezes um acto de convívio.
O café é uma bebida que resulta da infusão do grão do cafeeiro torrado e moído. O seu gosto, aroma e cor depende das variedades do grão de café. Uma "bica" (sem adição de açúcar) não tem calorias mas, essa mesma chávena de café contém mais de 300 substâncias. Algumas dessas substâncias são importantes na caracterização do seu aroma e sabor, outras que após a sua ingestão, interferem no nosso organismo; como é o caso da cafeína. O teor de cafeína depende do tipo de grão e da sua moagem, da qualidade usada e do tipo e duração da extracção (quanto mais longa for a extracção, maior o teor de cafeína). Assim, um café "tipo expresso" curto, contém menos cafeína do que o mesmo café cheio. O consumo moderado de café (cerca de 2 chávenas de café por dia) provoca um efeito estimulante, beneficia o nosso estado de alerta e reduz a fadiga. Quando o consumo de café são em doses mais elevadas, podem ocorrer: dores de cabeça, irritabilidade, palpitações e um aumento na perda de cálcio, havendo maior risco de osteoporose.
O café descafeinado resulta da extracção da cafeína por métodos químicos, que actualmente parecem ser bastante seguros. Chama-se "café de mistura" à mistura de café com farinha torrada e moída proveniente de cereais como: chicória, cevada ou centeio. O sucedâneo de café é apenas uma mistura desses mesmos cereais sem o café, não contendo assim cafeína.
Na linguagem popular referem-se como "chás" variadas infusões e tisanas de ervas, quando na realidade, o chá é uma infusão de folhas secas proveniente de uma camélia (Camélia sinensis), originária da China. A diversidade de aromas, cores e sabores dos diferentes tipos de chás dependem das regiões de origem, o tipo de folhas, e as selecções que constituem os lotes. Existe o chá preto (onde as folhas sofrem fermentação antes de secar) e o chá verde (onde as folhas não sofrem fermentação), ambas contêm cafeína. Peso por peso, o chá tem mais cafeína do que o café, mas como é utilizado em menor quantidade, a bebida resultante fica mais fraca. Além disso, a cafeína que existe no chá é absorvida muito mais lentamente, provocando um efeito mais tonificante, prolongado e ligeiro; a adição de uma gota de limão ou leite ajuda a precipitar a cafeína. Além da cafeína, o chá contém muitos outros compostos activos, não fornece quaisquer calorias mas, pode ser uma fonte importante de flúor e magnésio.
As infusões e tisanas feitas a partir de várias plantas, que vulgarmente referimos como sendo "chás de ervas", são bebidas úteis para quem não gosta de beber água. Quase todas são inofensívas e podem até trazer vantagens, por exemplo: a camomila, tília ou erva-luísa ajudam na digestão e a cidreira actua como sedativo. Há no entanto infusões e tisanas de ervas com actividade farmacológica muito intensa, normalmente utilizadas com fins terapêuticos (algumas existentes nas ervanárias) e que só devem ser consumidas moderadamente e em determinadas situações.
Atenção aos "saquinhos" de chá que são cada vez mais consumidos, é necessário ler sempre a rotulagem. Um simples "chá" de limão pode consistir numa mistura de chá (chá preto que contém cafeína) e aroma de limão; longe da simples infusão feita a partir da casca de limão.

Desafios brasileiros


Conheça as promessas dos presidenciáveis para a saúde

Daniel Jelin
Especialistas comentam as propostas dos candidatos Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) para a saúde. Confira e assista a trechos da propaganda eleitoral.
MUTIRÕES
O tucano José Serra foi quem mais promessas fez para o setor de saúde, em boa parte baseado em sua própria experiência como ministro, prefeito ou governador. Uma delas é a volta dos mutirões, um dos marcos de sua gestão no governo Fernando Henrique Cardoso. Ao vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital Corrêa Lima, a proposta agrada - mas apenas como forma de cumprir a curto prazo uma demanda pontual: cirurgias de catarata e hérnia, por exemplo. Corrêa Lima avisa que mutirões não devem substituir planejamento. “Em saúde, nada que é feito em grande escala num curto espaço de tempo é muito recomendável”, diz. Marcos Bosi Ferraz, diretor do Centro Paulista de Economia da Saúde, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) concorda. No curto prazo, são aceitáveis, mas "sistemas de saúde não podem depender de 'mutirões', porque eles atestam a ineficiência da priorização, do planejamento e das políticas públicas".

MEDICINA ESPECIALIZADA
Serra defende a criação de ambulatórios de medicina especializada à maneira dos 32 que criou à frente do governo estadual. O tucano promete para o país exatos 154 deles, com capacidade para 27 milhões de consultas/ano e 63 milhões de exames/ano. Em maio, sem falar em números, a petista Dilma Rousseff também defendeu a criação destas clínicas. A atenção dos candidatos reflete um conhecido gargalo da saúde pública: as longas filas para consultas e exames com especialistas. “Com certeza serviços ambulatoriais especializados são necessários”, diz Ferraz. Mas, ressalva, “os números propostos dizem pouco sem uma clara consideração de sua distribuição e integração com o restante dos equipamentos de saúde”.

PRONTO-ATENDIMENTO
Dilma promete construir 500 Unidades de Pronto-Atendimento, com foco nos casos de urgência simples. É uma estratégia para desafogar os pronto-socorros. Cumprir esta promessa exige investimento de 1,3 bilhão de reais. Seu alto custo fez com que, ao longo do governo Lula, fossem construídas apenas 77 delas.

VACINAÇÃO
Serra também promete duplicar a campanha de vacinação de idosos contra gripe e a inclusão de crianças. Corrêa Lima aplaude: “É importante corroborar iniciativas de sucesso, como as campanhas de vacinação e o programa dos transplantes, que viraram referência”, diz. Ferraz lembra as limitações orçamentárias: “A princípio qualquer ampliação de programas preventivos pode ser justificável. A grande questão não respondida envolve priorização de um problema de saúde entre várias opções para o uso do escasso e finito recurso.” Ele cita a importância de outros programas preventivos, como o de detecção de modalidades mais freqüentes de câncer, que competem pela mesma verba.
APOIO À GESTANTE
Em mais uma promessa baseada em sua experiência em São Paulo, Serra promete criar o programa de apoio à gestante Mãe Brasileira, à maneira do Mãe Paulistana. É uma ideia de baixo impacto orçamentário que pretende estimular a futura mãe a se submeter a pelo menos seis exames pré-natais no SUS. Como incentivo, as gestantes ganham um enxoval e recebem acompanhamento médico até o bebê completar um ano.
ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
Ao falar dos medicamentos genéricos, incentivados por lei aprovada durante sua gestão como ministro, o candidato tucano prometeu “turbiná-los” e criar “uma cesta de remédios gratuitos com cerca de 80 medicamentos para serem distribuídos por meio dos municípios”. Dilma, sem dar números, também prometeu ampliar a oferta de remédios gratuitos e investir no Farmácia Popular, que subsidia medicamentos para a hipertensão e o diabetes em até 90%. E a candidata do PV, Marina Silva, fala em incentivar “o uso de tratamentos e métodos mais simples, baratos e tradicionais (culturais) como a fitoterapia, a acupuntura e a reeducação alimentar”.
Os candidatos miram um tema caro ao eleitor – basta lembrar que, mesmo limitado, o Farmácia Popular chegou a ser o programa mais bem avaliado do governo Lula, à frente do Bolsa Família. Mas a relação de remédios é só a ponta da assistência farmacêutica. O desafio é, antes, logístico e financeiro. “Já temos uma lista de medicamentos ‘essenciais’, outra de medicamentos ‘estratégicos’ e mais recentemente criamos uma para os ‘especializados’, que deveriam ser distribuídos gratuitamente e regularmente”, diz Ferraz. “Tais listas envolvem muito mais do que 80 medicamentos. Precisamos é assegurar que os medicamentos listados sejam atualizados periodicamente e estejam disponíveis regularmente”.

Novo Código de Ética Médica



Novo Código de Ética

Novo Código de Ética Médica

Depois de dois anos de consulta pública, o documento atualiza regras e princípios que o médico deve seguir no exercício da profissão. Temas como bioética e o tratamento de doentes terminais estão presentes na nova “constituição” dos profissionais de medicina. O Código foi aprovado com a participação de cerca de 400 delegados, entre conselheiros federais e regionais de medicina, além de representantes de várias entidades médicas. Confira a seguir o que muda com o novo Código:
  

1. O que é o Código de Ética Médica?

É um documento que reúne um conjunto de normas e princípios nos quais o profissional de saúde deve se basear para exercer seu trabalho. Entre os principais temas abordados, estão os direitos dos médicos, a responsabilidade profissional, direitos humanos, relação com pacientes e familiares, sigilo profissional, pesquisa científica e relações da medicina com a indústria farmacêutica.

2. O que acontecerá com os profissionais que desrespeitarem as normas do Código?

Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), órgão que possui atribuições constitucionais de fiscalização e normatização da prática médica, o novo Código é subordinado à Constituição Federal e à legislação brasileira. Em caso de denúncias de práticas indevidas, o profissional acusado é submetido à avaliação pelo Conselho Regional de Medicina: caso a denúncia se confirme, ele pode ser impedido de exercer a atividade.

3. Por que o novo Código foi criado?

O último Código havia sido publicado em 1988. Nas duas décadas que se passaram, surgiram novas situações na sociedade contemporânea, como a eutanásia, além de questões éticas suscitadas pela evolução da biotecnologia, como a manipulação genética. Para a atualização, o CFM considerou a consulta pública, códigos de ética médica de outros países e também posicionamentos já estabelecidos, registrados em pareceres e resoluções da Justiça

4.Quais foram são as principais inovações?

De acordo com o CFM, o texto atual “remove algumas obscuridades ou duplicações e destaca com mais vigor os princípios fundamentais da ética”. As mudanças vão desde a exigência de uma letra legível na receita médica – uma antiga reclamação de pacientes – até a proibição de escolha do sexo do bebê na reprodução assistida. O Código também é mais claro sobre as relações do médico com pacientes e familiares, hospitais e clínicas e com a indústria farmacêutica.

5.O Código atinge também os hospitais e clínicas?

De certa forma. O CFM afirma que o Código “não é determinado apenas pela profissão médica em si, também verifica o cumprimento dos regulamentos que regem a sociedade na qual os profissionais praticam a medicina”. Os serviços de saúde poderão ser atingidos pelo código já que ficou estabelecido que o médico é capaz de recusar atendimento caso as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar sua própria saúde ou a do paciente. Outro ponto é que o médico também não poderá faltar no plantão ou sair antes do horário estabelecido, sem a presença de um profissional para substituí-lo. Segundo o código, “na ausência de médico plantonista substituto, a direção técnica do estabelecimento de saúde deve providenciar a substituição”. Se forem respeitadas, as normas tendem a mudar a qualidade de atendimento em clínicas e hospitais – públicas e particulares.

6. A relação médico-paciente vai melhorar?

Sim, isso deve mesmo acontecer. O Código estabelece que o paciente ou representante legal deve consentir o procedimento ou tratamento a ser realizado, salvo em situações graves, com risco de morte. Outro ponto do documento chama a atenção para importância da opinião das pessoas submetidas a tratamento. Segundo o texto, “o médico aceitará as escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas”. O médico não poderá se opor, caso o paciente resolva recorrer a uma segunda opinião.

7. Agora a eutanásia será permitida?

Não. O médico não poderá abreviar a vida do paciente, mesmo se o ato for solicitado pelo próprio doente ou por seu representante legal. De acordo com o Código, em casos de doença incurável, o médico deve oferecer cuidados paliativos, que reduzem o sofrimento do paciente. O documento indica que procedimentos desnecessários e invasivos não devem ocorrer em doentes terminais.

8. O que vai mudar na relação dos médicos com a indústria farmacêutica?

A relação entre a medicina e a indústria farmacêutica não deve ser exercida com o objetivo de obter vantagem "pelo encaminhamento de procedimentos, pela comercialização de medicamentos, órteses, próteses ou implantes de qualquer natureza, cuja compra decorra de influência direta em virtude de sua atividade profissional". Ou seja: os médicos não devem receber viagens, dinheiro ou qualquer outro tipo de benefício dos laboratórios em troca da indicação de medicamentos ou procedimentos.

9. Que outras restrições foram impostas aos médicos?

O médico não pode se associar a empresas que "anunciam ou comercializam planos de financiamento, cartões de descontos ou consórcios para procedimentos médicos". Eles também não poderão participar de anúncios, beneficiando-se de sua profissão.

10. Os avanços da biotecnologia foram discutidos no Código?

Sim. O médico não pode usar a medicina de reprodução assistida para criar embriões com o objetivo de escolher sexo ou para criar seres geneticamente modificados. Outro impedimento é criar embriões para investigação. Segundo o Código, “é vedado ao médico intervir sobre o genoma humano com vista à sua modificação, exceto na terapia gênica, excluindo-se qualquer ação em células germinativas que resulte na modificação genética da descendência”.

Como curar o sistema público de saúde?


Planos de saúde terão novos procedimentos obrigatórios (Getty Images)
As famílias brasileiras financiam a maior parte das despesas de saúde no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Do total gasto em 2007, cerca de 128 bilhões de reais (57,4%) vieram dos bolsos dos cidadãos, ante 93 bilhões de reais (41,6%) provenientes do setor público.
O problema é que tanto o serviço público quanto o privado desafiam a saúde e o folêgo dos brasileiros. O maior estorvo, é claro, está no atendimento oferecido pelo governo. De acordo com levantamento realizado junto a secretarias de saúde de sete capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba), ao menos 171.600 pessoas estão na fila para fazer uma cirurgia eletiva - procedimento agendado, que não possui característica de urgência. A demora para a realização de um procedimento ortopédico, por exemplo, pode levar até cinco anos.
A qualidade do serviço também é influenciada pela insatisfação dos médicos que trabalham para o Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o Instituto Brasileiro para Estudo e Desenvolvimento do Setor de Saúde, em média, a remuneração dos profissionais da área pública é metade da paga pela privada. Em alguns casos, a diferença é exorbitante: uma equipe de seis profissionais recebe 940 reais do SUS por cirurgia, enquanto receberia até 13.500 reais dos planos de saúde.
Diante do caótico quadro da saúde pública, os brasileiros se esforçam para manter planos privados. Atualmente, 26,3% da população - ou 49,1 milhões de pessoas - compromete parte da renda para ficar longe dos hospitais públicos. O desafio é manter as contas em dias à medida que envelhecem. Aos 60 anos, um assegurado pode ter que desembolsar mais de 700 reais para manter um plano básico, suficiente apenas para ocupar um leito de enfermaria ao lado de  outros pacientes, em caso de internação.
E as perspectivas não são boas. De acordo com estimativa realizada pelo Idec e pelo Procon, se mantidas as atuais condições de reajustes, nos próximos 30 anos, os planos de saúde deverão sofrer reajustes 126,67% acima da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em outras palavras, esse serviço se tornará proibitivo para boa parcela da população que hoje o possui.
Por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o governo já tentou regular os preços dos planos, colhendo alguns fracassos. E nada indica que futuras intervenções obteriam resultado diferente. E isso tem uma razão simples: as operadoras de saúde são empresas que realizam investimentos em tecnologia, estrutura e pessoal, contraem despesas e precisam honrar suas contas a cada final de mês. Elas estabelecem um valor a seus serviços levando em conta o custo deles e os preços de mercado. Portanto, pretender decretar o quanto essas companhias deveriam cobrar é uma medida que desafia razões elementares de mercado - em, outras palavras, briga com a realidade.
Frente a esse quadro, cresce ainda mais a importância da discussão acerca do sistema público de saúde - alimentado com o dinheiro que sai do bolso do contribuinte. Mas que, em geral, não trata bem esse cidadão.
Durante esta semana, VEJA.com vai analisar a realidade do sistema público de saúde, ouvindo especialistas e as campanhas presidenciais, para saber, afinal, que Brasil os candidatos pretendem construir nos próximos quatro anos.
Você também pode participar, dizendo o que pensa sobre o assunto. Deixe sua opinião na área de comentários desta página e participe da enquete a seguir.

Saúde Publica

O brasileiro sofre com uma das mais altas cargas tributárias do planeta. Em tese, isso lhe garantiria um atendimento de saúde universal e decente. Mas não. Só em sete capitais, mais de 170.000 pessoas terão de esperar até cinco anos por uma cirurgia não emergencial. Nos hospitais e pronto-socorros, mais filas e queixas quanto à qualidade do atendimento. O desafio do futuro presidente é tornar este sistema mais saudável.
Pílulas

Desafios brasileiros

O remédio é gestão

Passados 22 anos, o Sistema Único de Saúde precisa de um choque administrativo
Pesquisa mostra que médicos não denunciam colegas, mesmo que estes coloquem a vida de pacientes em risco

Dinheiro, a grande promessa

Indefinição orçamentária, que se arrasta há dez anos, tolhe políticas públicas em saúde

terça-feira, 20 de março de 2012

DESAFIOS PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS VIVENDO COM HIV/AIDS

E então as cri­an­ças cresceram…
Nós não pode­mos mais mantê-las sob uma redoma ou debaixo de nos­sas asas. Eis o desa­fio que ora se nos apresenta.
Tendo em vista toda a sorte de difi­cul­da­des de uma infân­cia sem pers­pec­ti­vas, com his­tó­rico de ado­e­ci­men­tos recor­ren­tes e suces­si­vas per­das, como rom­per com o prog­nós­tico da ausên­cia de pro­jeto de vida?
Há toda uma gera­ção à mar­gem da soci­e­dade, não menos do que qual­quer classe menos favo­re­cida, porém com seus agra­vos poten­ci­a­li­za­dos pela pre­sença do HIV.
É pre­ciso rom­per com mui­tos estigmas.
Na medida em que a epi­de­mia de AIDS sai do foco e atinge um público menos infor­mado e menos exi­gente em seu exer­cí­cio de cida­da­nia, as solu­ções para uma polí­tica pública que dimi­nua tan­tas desi­gual­da­des, não tem mais a urgên­cia que tinha anos atrás, quando artis­tas e ati­vis­tas inte­lec­tu­ais se mobi­li­za­vam e davam maior visi­bi­li­dade a todas essas questões.
Penso que mesmo nós do Movi­mento Social não nos pre­pa­ra­mos para esta demanda.
Quando os aco­lhe­mos às casas de apoio, não ima­gi­ná­va­mos como seria devolvê-los ao mundo. Pre­o­cu­pá­va­mos em resol­ver aquela emer­gên­cia, pres­tar socorro aquela cri­ança sobre­vi­vente de uma tra­gé­dia fami­liar. Ten­tá­va­mos com­pen­sar a ausên­cia da famí­lia ori­gi­nal sem pen­sar que aos dezoito anos, mais uma vez essa famí­lia se rom­pe­ria. Certa vez ouvi a Mica­ela Cirino (lide­rança jovem da Rede Naci­o­nal de Jovens Vivendo com HIV) referir-se a este momento: “quando seu filho faz dezoito anos, você o manda embora de casa?” Este ques­ti­o­na­mento, com cer­teza, deter­mi­nou a revi­são de alguns con­cei­tos rela­ci­o­na­dos ao modelo de casa de apoio, como era até então o ideal.
Na mai­o­ria dos abri­gos, estimulou-se a inclu­são dos ado­les­cen­tes em cur­sos téc­ni­cos e à for­ma­ção aca­dê­mica, de modo a prepará-los para a vida adulta. Muito se avan­çou neste sen­tido. Mas ainda assim, o cho­que de rea­li­da­des, tanto no reen­con­tro com a famí­lia rema­nes­cente, quanto com o mundo, foi inevitável.
A nossa opção, no Grupo Pela Vidda Nite­rói, foi por ten­tar dar suporte à famí­lia, para que a cri­ança pudesse man­ter seus vín­cu­los afe­ti­vos. Com o Pro­jeto “Criança=Vidda”, coor­de­nado pela Assis­tente Social Vir­gí­nia Soa­res a pela Psi­có­loga Leila Cha­gas, pude­mos acom­pa­nhar bem de perto este processo.
Mesmo desta maneira, não esca­pa­mos da difi­cul­dade em incluí-las socialmente.
Mesmo com o amparo da famí­lia, com a escola, com a infân­cia em comu­ni­dade, com o acom­pa­nha­mento médico e todos os cui­da­dos com­ple­men­ta­res a elas dis­pen­sa­dos, ainda assim não pode­ria dizer que esta é uma ini­ci­a­tiva 100% exitosa.
Obvi­a­mente que a pas­sa­gem para a vida adulta, é menos trau­má­tica, já que é a con­seqüên­cia natu­ral do cres­ci­mento bio­ló­gico. Sabe­mos que a ado­les­cên­cia é por si só, a fase da vida em que tudo é posto à prova – tendo ou não HIV.
É pre­ciso que as pró­prias famí­lias enca­rem isto com natu­ra­li­dade e não per­ma­ne­çam no cui­dado exces­sivo pro­lon­gando esta infân­cia, tolhendo sua auto­no­mia, não per­mi­tindo que assu­mam suas res­pon­sa­bi­li­da­des e suas esco­lhas. Mui­tas vezes, na ten­ta­tiva de com­pen­sar sua con­di­ção de “doen­tes de aids”, furtam-se do dever de lhes impor limi­tes que são neces­sá­rios para per­ce­ber as regras gerais de com­por­ta­mento, con­vi­vên­cia, hie­rar­quias,  res­peito mútuo e às diferenças.
Alguns dos jovens são leva­dos a acre­di­tar que o mundo inteiro lhes deve esta com­pen­sa­ção e não se livram do rótulo de “coitadinhos”.
Há aque­les que, mesmo inte­li­gen­tes e talen­to­sos, não se reco­nhe­cem como tal, por medo, tal­vez de pre­ci­sa­rem ado­tar outra pos­tura e por sua bai­xís­sima auto-estima.
Vive­mos atu­al­mente este dilema: introduzi-los e con­ter nossa pró­pria expectativa.
Às vezes sentimo-nos como que “malhando ferro frio”. Afi­nal, tan­tos luta­ram para que che­gas­sem até aqui… Como fazer com que per­ce­bam o valor de suas vidas para eles mesmos?
Ten­ta­mos agora aproximá-los de outros jovens de diver­sos outros movi­men­tos, para come­ça­rem a per­ce­ber as afi­ni­da­des natu­rais da idade. Atra­vés de ati­vi­da­des para todos (soro dis­cor­dan­tes), expe­ri­men­ta­mos uma inclu­são de mão dupla. Trabalhando
com música e arte, além de intro­du­zir alter­na­ti­vas cul­tu­rais, saí­mos do dis­curso da doença e fala­mos de saúde e vida.
Apre­sen­ta­mos outros espa­ços de atu­a­ção e con­vi­da­mos a comu­ni­dade para den­tro da ins­ti­tui­ção. Espe­ra­mos, deste modo, que­brar esta cadeia de pre­con­ceito e auto-preconceito.
Mas o tema que mais nos aflige é a Ade­são ao Tra­ta­mento. Não pode­mos fin­gir que está tudo bem. Pre­ci­sa­mos admi­tir a difi­cul­dade que têm em tomar seus medi­ca­men­tos para que pos­sa­mos aju­dar com alguma nova estratégia.
- Afi­nal, tomam remé­dios desde que nasceram!
Mas se não pro­pi­ci­ar­mos espaço para que pos­sam se expor ver­da­dei­ra­mente, sem medo de repri­men­das, não encon­tra­re­mos esta resposta.
Pode ser que seja neces­sá­ria uma nova apre­sen­ta­ção, uma nova for­mu­la­ção, menos agres­siva, com­pa­tí­vel com todas estas mudan­ças hormonais.
O fato é que aque­les que con­se­guem dri­blar todos os obs­tá­cu­los vão para o mer­cado de tra­ba­lho, para a escola e para a vida sem neces­si­dade de tutela.
O desa­fio é fazer com que isto se trans­forme em regra e não exceção!

Novo remédio no tratamento contra a AIDS é aprovado nos EUA



A Pfizer disse também que segundo os testes realizados em pacientes durante 24 semanas, 45% dos que tomaram Maraviroc viram como o HIV ficava em níveis indetectáveis, enquanto os que tomaram placebo tiveram índice de 23%.

Todos os pacientes submetidos ao estudo tomaram um coquetel dos melhores remédios contra a doença, além de já terem tentado outros tratamentos antes.

A autorização que a FDA deu ao laboratório é para que a nova droga seja utilizada nos casos de pacientes que tomaram sem sucesso outros remédios e nos quais foi confirmado que a cepa do vírus está vinculada ao CCR5. Segundo a FDA, entre 50% e 60% dos pacientes que foram tratados com outros remédios contra a Aids estão nesse caso.

As embalagens do Selzentry terão uma tarja preta de advertência, que define o maior nível de toxicidade nos remédios com receita médica. A empresa ressaltou também no comunicado que esse novo medicamento "não cura a infecção por HIV nem previne o contágio pela Aids".

Entre os efeitos secundários, que também aparecerão marcados, está a possibilidade de o paciente sofrer ataque cardíaco. Os sintomas secundários mais freqüentes podem ser tosse, febre, infecções do sistema respiratório, coceira, dor abdominal e enjôo.

A farmacêutica, uma das maiores do mundo, diz no comunicado que espera pôr à venda o novo remédio a partir de meados de setembro nos EUA. A empresa afirmou que já está administrando as autorizações correspondentes em outros lugares do mundo para a comercialização, sob o nome de Selzentry.

A FDA informou que a segurança e a eficácia do novo medicamento ainda não foi estabelecida nos pacientes, adultos ou crianças, que nunca foram tratados com remédios contra o vírus da Aids, nem em mulheres grávidas.

Fonte: EFE

Fatores biológicos e sociais tornam mulher mais vulnerável à Aids


Sul-africanas em protesto para remédios contra a Aids
Muitas mulheres não conseguem negar o ato sexual
Fatores biológicos e sociais têm contribuído para acentuar o risco de contágio do vírus HIV entre as mulheres, segundo a Unaids (a agência da ONU para a Aids).
"As mulheres têm uma vulnerabilidade adicional ao vírus HIV", disse Nina Ferenci, coordenadora da Unaids para a América Latina e o Caribe.
"Por um lado, estão a desigualdade e a dependência sócio-econômica. Por outro, a vulnerabilidade biológica."
De acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres são de duas a quatro vezes mais vulneráveis do que os homens em relação à infecção do vírus da Aids.
Durante a relação sexual, o vírus é transmitido com mais facilidade do homem para a mulher do que da mulher para o homem.
Fatores biológicos
O tecido da vagina e do reto é muito mais vulnerável ao contágio do que o tecido que cobre o pênis.
Além disso, a superfície de contato da mulher é muito maior, como explica Nina: "Em uma relação sexual, a mulher tem um contato estendido com os fluidos seminais, o que leva à maior probabilidade de infecção".
Por essa razão, continua Nina, é importante desenvolver métodos de proteção contra o vírus da Aids que possam ser controlados pela mulher.
"Em muitos casos, o homem se nega a usar preservativos, e muitas mulheres têm consciência que estão se expondo ao risco, mas não podem impor o uso da camisinha a seu parceiro", disse a coordenadora da Unaids.
"Estamos tratando de fomentar o desenvolvimento de certos métodos que a mulher possa controlar, como microbicidas, uma espécie de creme vaginal que pode matar o vírus, ou camisinhas internas femininas."
Fatores sociais
Para Nina, a epidemia de Aids expõe justamente os problemas diários que mulheres enfrentam, como, por exemplo, a dependência econômica.
"Em muitos países, a mulher depende economicamente do homem e, muitas vezes, isso leva a uma situação em que ela tem menos possibilidades de negar a relação sexual."
Em muitos locais, é inaceitável que as mulheres digam "não" a relações sexuais não desejadas ou sem proteção.
"A pobreza junta-se com a situação de desvantagem social da mulher para criar mais vulnerabilidade", alerta Nina.
"Há o machismo, os tabus e os aspectos culturais. Por exemplo, se uma garota leva uma camisinha, ela é considerada uma mulher fácil."
Na sua avaliação, esses "padrões culturais" são difíceis de serem manejados e duram muito tempo para serem mudados, já que estão em vigor há séculos.
Há ainda a questão do tratamento, ao qual os homens têm maior acesso, assim como a distribuição de medicamentos.
O alerta para a "feminização" da Aids foi feito pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, em meio às comemorações ao Dia da Mulher, em março deste ano.
Segundo a Unaids, desde 2002, o número de mulheres infectadas com HIV aumentou em todo o mundo, sem nenhuma exceção.
Na África, onde a epidemia está muito avançada, mais de 56% das pessoas infectadas são mulheres.

Nº de mulheres com Aids no Brasil é o maior desde a década de 80


Da Redação
Em São Paulo
O número de mulheres infectadas pelo vírus HIV é o maior desde a década de 80, quando começou a epidemia de Aids no Brasil. Foram 12.599 notificações, em 2003, contra 10.566, em 1998, cerca de 16% as mais. A informação consta do Boletim Epidemiológico da Aids 200, divulgado nesta terça-feira (30/11), pelo Programa Nacional de DST/Aids, do Ministério da Saúde.

Apenas nos primeiros seis meses deste ano já foram registrados 5.538 casos de Aids em mulheres. O avanço da doença entre o sexo feminino é o tema escolhido pelo governo federal para marcar o Dia Mundial de Luta contra a Aids, nesta quarta-feira (1º).

Entre os homens, o boletim revela que a tendência é de estabilização da doença. No ano passado, foram notificados 19.648 casos, quase 7% menos do que em 1998, quando houve 21.056 registros. A estabilização ocorreu, principalmente, entre os homens homossexuais ou bissexuais.

Em 1998, esse grupo representava quase 30% do total de infectados do sexo masculino, passando para 25%, em 2004. Situação inversa ocorreu com os heterossexuais, que representavam cerca de 30% dos homens infectados, em 1998, e hoje são 42%.

Em conseqüência da contaminação feminina, houve 201 casos de crianças até 13 anos, no primeiro semestre deste ano. Trata-se da chamada transmissão vertical, da mãe para o filho. Em 2003, foram 519 casos de transmissão vertical.

O boletim revela ainda a redução de infectados entre os usuários de drogas, principalmente as mulheres. Há uma década, essa era a forma de infecção feminina em 17% dos casos. Hoje, é responsável por apenas 4,3% das notificações. Entre os homens, passou de 27% para 13%, em dez anos.

A taxa de mortalidade também apresentou estabilidade nos últimos anos. No público masculino, o índice de 2003 é o mesmo de 2001: 8,8 mortes em cada grupo de 100 mil homens. Entre as mulheres, houve um pequeno aumento, de 3,9 mortes por 100 mil mulheres, em 2001, para 4 mortes por 100 mil, em 2003.

O diretor do Programa Nacional de DST/Aids, Pedro Chequer, relacionaa queda da mortalidade mais acentuada em determinados municípios do país, como São Paulo, é resultado da maior eficiência do sistema de saúde. "Quando o sistema de saúde funciona e responde precocemente ao diagnóstico e ao tratamento, pode-se modificar o perfil da epidemia do ponto de vista da incidência e da mortalidade", afirmou.

Com Agência Brasil

quarta-feira, 7 de março de 2012

Práticas educativas e prevenção de HIV/Aids: lições aprendidas e desafios atuais


1 Professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social, Universidade de São Paulo, USP. <jrcayres@usp.br>
AYRES, J.R.C.M. Educational practices and the prevention of HIV/Aids: lessons learned and current challenges,
Interface _ Comunic, Saúde, Educ, v.6, n.11, p.11-24, 2002.
11 Interface - Comunic, Saúde, Educ, v6, n11, p.11-24, ago 2002
Prevention has been a crucial aspect of Aids-control programs. Enormous progress both in knowledge and
techniques in this area has been unable to significantly alter the basic determinants of the infection or the illness
processes of substantial groups of people. This essay seeks to systematize the lessons learned in the field of
prevention over the epidemic’s two decades – taking into account, in particular, the Brazilian experience. The
implications of these lessons in regard to our prevention strategies are, briefly: a) that we should think about
prevention strategies less in terms of “population-based groups” and more in terms of something we can call
“intersubjectivity contexts.” This means demarcating areas of interaction (social, cultural etc.) that generate
vulnerability, articulated with the intersubjective contexts that favor the construction of responses designed to
reduce those vulnerabilities; b) the effective substitution of the molding attitude by an emancipatory attitude in
our educational practices; c) that we should not focus the policies, programs and actions on risk groups or risk
behaviors, but rather on the relationships socially established among the different social subjects and their
interdependent and changeable identities.
KEY WORDS: Acquired immunodeficiency syndrome; health education.
A prevenção tem sido uma questão crucial para os programas de controle da Aids. Os enormes progressos do
conhecimento e da técnica nesse campo não chegaram a alterar substantivamente os determinantes fundamentais
da infecção e adoecimento de significativos contingentes populacionais. Neste ensaio busca-se sistematizar as lições
que aprendemos no campo da prevenção nessas duas décadas de epidemia, tomando como base, em especial, a
experiência brasileira. As implicações dessas lições para nossas estratégias de prevenção são, em síntese: a) que
devemos pensá-las menos em termos de “grupo populacionais” e muito mais no que podemos chamar de “contextos
de intersubjetividade”, isto é, delimitar espaços (sociais, culturais etc) de interação geradores de vulnerabilidade e,
de modo articulado, os contextos intersubjetivos favoráveis à construção de respostas para a redução dessas
vulnerabilidades; b) a efetiva substituição da atitude modeladora por uma atitude emancipadora em nossas práticas
educativas; c) não centrar as políticas, programas e ações nos grupos ou comportamentos de risco, mas nas relações
socialmente estabelecidas entre os diversos sujeitos sociais e suas interdependentes e cambiantes identidades.
PALAVRAS-CHAVE: Síndrome de imunodeficiência adquirida; educação em saúde.
dossiê
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AYRES, J. R. C. M.
Interface - Comunic, Saúde, Educ, v6, n11, p.11-24, ago 2002
“Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Poderoso para mim é aquele que descobre
as insignificâncias (do mundo e as nossas).”
Manoel de Barros
A prevenção hoje
A prevenção tem sido, desde o início da epidemia, uma questão crucial para
os programas de controle da Aids. Naqueles primeiros tempos, era grande o
desconhecimento acerca da doença e sua distribuição e poucos os subsídios
para guiar ações preventivas. Desde então, esse quadro sofreu profundas
alterações. Houve um aumento substantivo do grau de conhecimento
científico acerca do vírus, suas interações com o organismo, sua
epidemiologia e sobre os principais determinantes sociais dessa epidemia.
Destaca-se, em particular, o elevado grau de conhecimento alcançado acerca
do controle dos efeitos danosos do HIV sobre o organismo humano.
Contudo, passados já vinte anos, e mesmo com todos os avanços
apontados, a importância da prevenção não é menor nos dias de hoje. Os
enormes progressos do conhecimento e da técnica não esvaziaram os
desafios da prevenção, uma vez que tais avanços não chegaram a alterar
substantivamente os determinantes da vulnerabilidade ao HIV e à Aids de
significativos contingentes populacionais. Entre estes aspectos de
vulnerabilidade, destacam-se a pobreza; a exclusão de base racial; a rigidez
de papéis e condutas nas relações de gênero; a intolerância à diversidade,
especialmente de opção sexual; o limitado diálogo com as novas gerações e a
conseqüente incompreensão dos seus valores e projetos; o descaso com o
bem estar das gerações mais idosas e a impressionante desintegração da
sociedade civil no mundo globalizado (Castells, 1999), gerando uma
violência estrutural que amalgama todos os demais aspectos de
vulnerabilidade num perverso sinergismo (Farmer et al. 1996; Parker &
Carmargo Jr., 2000).
Mesmo onde os progressos técnicos e científicos fizeram sentir com mais
intensidade seus notáveis efeitos, ainda não há lugar para descuido, nem por
parte da população e nem dos profissionais de saúde. Este aspecto é
especialmente relevante quando se trata dos avanços no tratamento. O
progresso dos recursos diagnósticos e terapêuticos no manejo da Aids obriga
a um concomitante reforço e exame crítico das ações de prevenção.
As modernas terapias antiretrovirais, quando associadas a uma
informação extensiva, democrática e sustentada para o conjunto da
sociedade e a serviços de saúde preparados, equipados e igualmente
acessíveis ao conjunto dos cidadãos, têm determinado o fim da inexorável
equação “infecção = morte”, que marcou o início da epidemia. Uma imensa
quantidade de pessoas vivendo com Aids recuperou plenamente, ou quase,
sua capacidade de interagir, produzir, amar, ter prazer, etc. Novos
infectados têm podido conviver com sua condição de soropositividade sem
que isso chegue a afetar o mais essencial de seus projetos e estilos de vida.
Uma geração inteira está chegando à adolescência vivendo com o HIV.
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Interface - Comunic, Saúde, Educ, v6, n11, p.11-24, ago 2002
Crianças brincam e estudam como seus pares. Mulheres e homens vivendo
com Aids estão podendo, com segurança cada vez maior, serem mães e pais.
Os impactos da terapia antiretroviral não têm sido limitados, porém, à
sobrevida e qualidade de vida dos já infectados ou doentes apenas. A
perspectiva de poder se tratar e/ou conter o avanço da infecção é um
estímulo a que cada vez maior número de pessoas, e mais precocemente, se
preocupem com sua condição de saúde, procurem os serviços e permaneçam
aderidos a seus cuidados. Nas palavras de Herbert de Souza (1994), o
“Betinho”, não é a perspectiva da morte que dá sentido a nossas existências,
mas a perspectiva da vida mesmo. A possibilidade do tratamento constitui,
com efeito, um poderoso motor para a melhora da prevenção.
Contudo, de modo concomitante aos impactos positivos citados, uma
série de novas dificuldades veio se colocar em cena. É comum dizer-se que a
possibilidade do tratamento pode produzir um “relaxamento” da população
em relação à prevenção, mas já há evidências de que essa preocupação possa
ser infundada. Recentemente, a coordenação nacional de DST/AIDS do Brasil
revelou que seus estudos avaliativos não demonstram qualquer indício desta
tendência nesses seis anos de política brasileira de acesso universal ao
tratamento 2, ainda que alguns estudos internacionais identifiquem essa
associação, especialmente entre homossexuais jovens 3. De qualquer forma, é
inevitável que se atente para os efeitos dos novos significados sociais que se
estão construindo sobre a infecção pelo HIV e a Aids neste contexto.
Renovados desafios se colocam para pesquisadores, técnicos e ativistas na
identificação de novas representações, simbolismos, conteúdos não
imediatamente verbalizados e, especialmente, da nova dinâmica
epidemiológica que a doença pode assumir.
De fato, entre todas as importantes transformações trazidas pela era dos
antiretrovirais, um aspecto da maior importância para a tarefa da
prevenção é algo a que se poderia denominar de um “paradoxo
epidemiológico”. Trata-se de que, à medida que se avança na recuperação da
saúde das pessoas vivendo com HIV, reduzindo as limitações que acabavam
por apartá-las da chamada “população geral”, mais freqüentes e
diversificadas tenderão a ser as interações entre esses grupos. Se, por um
lado, esse fato representa uma grande conquista no controle da epidemia,
tanto do ponto de vista da assistência quanto da prevenção, conforme
apontado, significa, por outro lado, que as oportunidades de transmissão do
HIV por meio de relações sexuais, uso de substâncias injetáveis, gestação e
uso de hemoderivados poderão aumentar proporcionalmente. Por isso, se o
controle da epidemia do HIV em nossos dias depende, em alto grau, da
São Paulo, 1993 Rio de Janeiro, 1994
3 BASTOS, F. I.
Comunicação pessoal.
In:SEMINÁRIO
INTERNACIONAL
AIDS NAS GRANDES
CIDADES. São Paulo,
2002.
2 TEIXEIRA, P.
Comunicação pessoal.
In:SEMINÁRIO
INTERNACIONAL
AIDS NAS GRANDES
CIDADES. São Paulo,
2002.
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AYRES, J. R. C. M.
Interface - Comunic, Saúde, Educ, v6, n11, p.11-24, ago 2002
eficácia dos antiretrovirais e de uma assistência à saúde de qualidade, é
impossível não considerar que esse controle também depende radicalmente
da construção de uma cultura preventiva ainda mais universalizada,
sustentada, plural e versátil para o conjunto da sociedade.
Essa necessidade de intensificação e renovação traz para a prevenção
novos cenários, sujeitos, experiências, valores, tornando-a ainda mais
complexa. Por tudo que já se avançou no campo das respostas
tecnocientíficas e sociopolíticas à epidemia, temos muitas razões para
acreditar que é possível fazer avanços nessa direção, apesar das dificuldades
apontadas. A contribuição que se pretende trazer com o presente ensaio
caminha no sentido de inventariar alguns desses avanços e reexaminá-los
criticamente, tendo no horizonte aqueles desafios.
Face ao conhecimento acumulado, o que profissionais e ativistas podem
efetivamente fazer hoje, no sentido de favorecer a adoção de práticas
protegidas e protetoras da infecção pelo HIV? Quais as implicações dos
avanços terapêuticos sobre a concepção e o desenvolvimento dessas
práticas? O que é preciso rever em nossas estratégias e recursos técnicos,
para caminhar, realizar a renovação pretendida? Para desenvolver essa
reflexão, buscar-se-á sistematizar um conjunto de aprendizados realizados
no campo da prevenção nessas duas décadas de epidemia, tomando como
base, em especial, a experiência brasileira. A proposta é apontar, a partir
desse balanço, algumas implicações das atitudes e recursos emergentes
desses aprendizados para o desenho de novas estratégias e métodos de
prevenção.
Antes de prosseguir, cabem dois reparos. O primeiro é que a reflexão aqui
proposta restringir-se-á às práticas educativas, pela centralidade que
ocupam hoje no campo da prevenção, passando-se ao largo da questão de
vacinas e das quimioprofilaxias, o que não significa, em absoluto, que se
desconheça a relevância destes recursos. O segundo é que não se pretende
fazer aqui uma lista exaustiva das diferentes estratégias e experiências em
educação preventiva, nem qualquer tipo de hierarquização de sua relevância
ou prioridade, mas tão somente um exercício de sistematização e reflexão.
Lições aprendidas
Primeira lição: terrorismo não funciona
A primeira lição aprendida, logo nos primeiros anos da epidemia, é que o
caminho do terror, do susto, de que quanto mais assustadora a propaganda
melhor seu efeito preventivo, é extremamente limitado. Essa via mostrou-se
ineficiente, estéril, afastando mais que aproximando as pessoas do problema.
Talvez tivesse bastado recorrer de forma mais precoce e conseqüente às
teorias da comunicação para perceber que o cenário sombrio, apresentado
por aquelas primeiras campanhas de prevenção, teria mesmo muita
dificuldade de criar identidades, associações, motivações para que as pessoas
mudassem seus comportamentos no momento das relações sexuais ou de
fazer uso de drogas injetáveis.
É compreensível que, no início da epidemia, técnicos, militantes,
formuladores de políticas, não tivéssemos mesmo condições de revisitar com
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PRÁTICAS EDUCATIVAS E PREVENÇÃO DE HIV/AIDS...
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mais tranqüilidade as teorias da comunicação, num momento em que se
deparava com uma doença desconhecida, epidêmica e fatal. O correr dos
anos e a experiência prática, porém, encarregaram-se de apontar a ineficácia
dessas estratégias. Mais que isso, mostraram que o terror ajudava a gerar e
aumentar a discriminação e o preconceito e esses mostraram ser um dos
mais perniciosos componentes da epidemia e um dos mais importantes
elementos a serem combatidos (Treichler, 1991; Daniel, 1994).
No contexto dos avanços terapêuticos, a importância de recusar a
estratégia do terror é ainda mais premente, pois é a cada dia maior o
número de pessoas vivendo com Aids, às quais estaremos enganando,
agredindo, desestimulando e desmobilizando ao associar tão
inexoravelmente a infecção pelo HIV ao sofrimento e à morte. Repita-se aqui
Betinho. É a possibilidade da vida que nos leva a interagir, construir,
planejar, não a certeza da morte.
Segunda lição: o risco é um conceito útil, mas limitado
Outra importante e difícil lição aprendida diz respeito às relações entre
teoria e prática. Toda teoria em saúde nasce em estreita relação com
processos de investigação empírica partindo, nesse sentido, de preocupações
e indagações diretamente relacionadas à prática. Resultados válidos e
consistentes dessas pesquisas transformam-se em conhecimento a partir de
necessários processos de abstração e este conhecimento, ao retornar ao
campo das práticas, pode assumir distintos graus de aplicabilidade e
efetividade.
Desse modo, é preciso distinguir cuidadosamente os territórios de
validade dos diferentes conceitos e de suas aplicações práticas, o que, com
freqüência, é negligenciado. O uso que se faz da epidemiologia em saúde
pública exemplifica esta dificuldade. Desde o início da epidemia recorreu-se à
epidemiologia e seus estudos sobre riscos como uma instância que podia
“legislar” quase absoluta sobre os determinantes do problema e construir
respostas para sua solução. Desde a elaboração e teste de hipóteses de
associação causal até a recomendação de quem devia fazer o que e quando, a
epidemiologia tornou-se a depositária soberana de quase toda a esperança
de controle da epidemia.
Ocorre que as análises de risco, como todo conhecimento epidemiológico,
são também construídas à custa de sucessivos processos de abstração
conceitual, que lhe garantem manuseio formal e matemático de grande
precisão (Ayres, 1997). Porém, na medida mesma dessa precisão formal, dáse
seu necessário afastamento de aspectos da realidade fundamentais para
quem pensa a prevenção: a subjetividade, a significação, a interação, a
dinamicidade (Ayres, 2001).
Tomar associações probabilísticas entre variáveis abstratas como
principal, quando não única, orientação para ações de prevenção, centrando
as estratégias de intervenção no “isolamento epidemiológico” dos chamados
grupos de risco, ou na modelagem universal dos ditos comportamentos de
risco, tem sido um erro freqüente. O primeiro porque rotula, generaliza,
cristaliza, isola, paralisa. O segundo porque universaliza, dessubjetiva,
despolitiza, descontextualiza. Ambos, usados acriticamente, conduzem à
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AYRES, J. R. C. M.
Interface - Comunic, Saúde, Educ, v6, n11, p.11-24, ago 2002
ineficácia, ineficiência e a violências de diversas ordens (Mann &
Tarantola, 1996).
Não se quer afirmar, com essas observações, que não haja
qualquer sentido no uso de conceitos epidemiológicos, ao
contrário. Para além de sua capacidade de gerar e testar
hipóteses consistentes e relevantes para o conhecimento teórico
da Aids, alguns impactos práticos imediatos são evidentes: o
conceito de grupo de risco é apontado por alguns militantes gays
como um fator que propiciou a organização da resposta política
do grupo nos Estados Unidos; alguns técnicos sustentam que o
raciocínio probabilístico é ainda o mais efetivo para orientar o
controle dos bancos de sangue; com base na identificação de
comportamentos de risco foram desenvolvidas técnicas
educativas importantes, amplamente utilizadas nas oficinas de
sexo seguro. É preciso, entretanto, atentar sempre para os
critérios que tomamos por base para definir x ou y como grupos
de risco, e quais as implicações práticas dessa definição; saber se
não existem outros recursos e estratégias, às vezes menos imediato, porém
mais legítimos e éticos para alcançar o objetivo da prevenção; ou ainda quais
as condições concretas – emocionais, morais, culturais, econômicas etc. - que
os indivíduos têm para efetivamente adotar ou evitar comportamentos que
o expõem ao HIV.
Subsumir as idéias de grupo de risco e comportamento de risco à noção
mais abrangente de vulnerabilidade; tomar os Direitos Humanos como
critério fundamental para identificar e combater as diversas
vulnerabilidades – tais como as listadas ao início do artigo – e adotar a
redução de danos como atitude orientadora de nossas intervenções
preventivas constituem as mais expressivas respostas que emergiram desse
aprendizado (Parker, 2000; Ayres et al., 1999).
Terceira lição: prevenção não se ensina
Pode parecer paradoxal, quando se disse logo ao início que a reflexão
seria centrada na via educativa da prevenção, que se liste entre as lições
aprendidas que prevenção “não se ensina”. O ponto que se quer enfatizar
com essa afirmação provocativa é que, rigorosamente, ninguém ensina nada
a ninguém, mas todos aprendem com todos (Freire, 2000). Pesquisadores,
militantes, técnicos, todos já investimos muito tempo e energia julgando
poder “ensinar” às pessoas o que é o HIV, a Aids, as formas de se proteger
da infecção. Entretanto, viu-se freqüentemente que as estratégias educativas
e seus métodos de avaliação não passavam da superfície do problema. É
como atirar pedras em lagos escuros. Produz-se um abalo de superfície,
observam-se as efêmeras ondulações provocadas e perde-se de vista onde a
pedra vai parar e o que realmente acontece com ela.
De novo, demorou-se a recorrer a algumas teorias iluminadoras. Mesmo
no Brasil, a pátria de Paulo Freire, esse importante filósofo e metodólogo da
educação, modelos bastante limitados e limitantes de educação preventiva
foram amplamente importados e utilizados. Modelos orientados por uma
idéia de comunicação unidirecional, dogmática e autoritária; modelos
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PRÁTICAS EDUCATIVAS E PREVENÇÃO DE HIV/AIDS...
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baseados na idéia de aprendizado como simples aquisição de informação;
modelos centrados na modelagem do outro à própria imagem como objetivo
da educação preventiva (Paiva, 2002).
Até pela natureza das questões postas em jogo quando a consideração
dos comportamentos é incluída na esfera mais ampla das vulnerabilidades,
não se pode esperar que a simples transmissão de uma informação modele o
educando à vontade do educador. É preciso estabelecer uma relação tal
entre educadores e educandos que permita a estes entrar efetivamente em
contacto com a questão em pauta, para que ambos possam apreender o que
se trata, de fato, e o que deve e pode ser feito a respeito (Seffner, 2002).
Foi assim que a comunidade gay norte-americana trocou as estéreis
estratégias de abstinência pelo “safer sex”, ou sexo mais seguro. Foi assim
que se “reinventou” ali a camisinha como parte das relações sexuais. É assim
que, no Brasil, em particular, estamos fazendo das oficinas de treinamento
para “dizer não” (não ao sexo sem camisinha, não ao uso de drogas etc.)
atividades de reflexão e organização para que se possa saber quando e
porque temos dificuldade de dizer não. É assim, ainda, que também se tem
tentado transformar as “palestras” para transmissão de informação em
“grupos de reflexão”, buscando fomentar a construção de processos de
emancipação de pessoas e grupos (Paiva, 2002).
Quarta lição: não somos sem um Outro
Há ainda uma quarta lição, talvez a mais recente e difícil delas, que pode
ser resumida na afirmação de que aprendizado é encontro. De fato, o que
caracteriza a educação no sentido pleno da palavra não é a simples
preocupação de um sujeito diante de um objeto (o objeto de trabalho do
educador), por mais cuidadosa que seja a delimitação desse objeto. Educar é
perceber e trabalhar com a efetiva presença de “um sujeito diante de outro
sujeito”. Justificando a presença de um diante do outro, realizando mesmo a
possibilidade dessa mútua presença, encontra-se, sim, um objeto, o objeto de
aprendizado. Esse objeto, contudo, só vai ganhar plenamente sentido, para
ambos, na efetividade do encontro educativo. O objeto é mesmo a razão da
interação, mas é o diálogo entre os sujeitos que caracteriza a ação educativa
propriamente dita.
Após duas décadas de epidemia, o que parece mais claro é o alcance
radical dessa dimensão dialógica no pensar a educação. O principal
aprendizado é que, mais que um elemento puramente processual, o diálogo
caracteriza as identidades mesmas de educador e educando. Isto é, o caráter
substantivamente intersubjetivo não caracteriza apenas o processo
educacional, mas estende-se à construção de nossas identidades de um modo
geral. Nós somos porque o Outro é, nós somos à medida que o Outro é; nós
não somos senão diante de um Outro.
O que se quer defender aqui, em síntese, é uma revisão filosófica – com
base em já sólidos desenvolvimentos, cujos conteúdos e significados não se
pode explorar mais amplamente no espaço deste artigo, como as de Ricoeur
(1991), Habermas (1990), Rorty (1988), Gadamer (1996) – que leve à
superação da concepção clássica de sujeito, apoiada nas concepções
solipsistas e universalistas herdadas do iluminismo. Postula-se a necessidade
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premente de uma conceituação de subjetividade (subjetividade querendo
denotar aqui simplesmente o ato ou estado de ser sujeito) em que a
dimensão identitária seja definida por sua contínua reconstrução na e pela
interação4.
A posição aqui adotada é a de que não existe o sujeito “individual”, ou
antes, que aquilo que tratamos como individualidade no sujeito, não é
menos nem mais que o resultado de não estarmos sozinhos no mundo, de
sermos sempre e imediatamente “o outro de cada um” (Ricoeur, 1991). É a
partir da “resistência” do outro fora de nós que nos identificamos. É essa
alteridade vivida que nos leva a atribuir a nós mesmos o predicado de
indivíduo. Mas o In-dividuu, o que não se pode dividir, o que permanece
coeso, não é sempre “o mesmo”. Se é do outro que vem a resistência, se são
sempre diferentes os predicados que, ao atribuirmos a terceiros, nos
identificam, então essa individualidade não pode ser “mesmidade” (o
mesmo), mas “ipseidade” (pelo mesmo) (Ricoeur, 1991).
Isto é, o que permanece no tempo não é sempre um e mesmo predicado
que nos define como sujeitos, mas uma auto-diferenciação que se afirma a
cada vez que reconheço um outro, o que leva Heidegger (1995) a distinguir
a individualidade/eu da individualidade/si. Esta última guarda o sentido
forte de sujeito, no sentido de ipseidade. Segundo esse filósofo, quando
estamos falando de sujeitos referimo-nos a essa identidade-si, ao Eu que é “a
cada vez meu”, à ipseidade.
O que ocorre nas práticas de saúde é que o sujeito é predominantemente
tratado como um ente individual e permanente, como mesmidade. Ao se
perder de vista, em conceitos e práticas, a ipseidade dos sujeitos, torna-se
mais difícil chegar ao âmago dos processos mais vivos de sua constituição
enquanto tal. Assim, paradoxalmente, são perdidas as mais ricas
possibilidades de participar da construção de identidades e de fortalecer o
poder transformador de indivíduos e grupos no que se refere à saúde.
A importância do giro que representa essa concepção imediatamente
relacional de nossas identidades não é nem um pouco desprezível. Se o eu é
a cada vez meu, o educador é também a cada vez um, determinado pelo
aprendizado que advém de uma certa possibilidade de encontro com um
outro, o que inclui, necessariamente, as circunstâncias desse encontro -
espaciais, temporais, morais, políticas, entre outras. Um excelente exemplo
sobre a importância de quem se encontra, onde se encontra e como se
encontra, para a determinação de quem somos e o que fazemos, pode ser
encontrado no relato de uma educadora do Rio Grande do Sul
5
, durante um
seminário organizado pela ABIA, no Rio de Janeiro. Tratava-se de um
trabalho de prevenção de Aids entre travestis, trabalhadoras do sexo, na
área metropolitana de uma grande cidade. O trabalho educativo mais
relevante naquele momento não era com as travestis, mas com a polícia,
que, ao reprimir a atividade profissional daquelas, impossibilitava também o
trabalho de prevenção. Contou essa educadora que, após infrutíferas
tentativas de “informar” os policiais sobre a importância da não repressão,
da não violência e da abertura para o trabalho preventivo na área,
educadores e travestis resolveram mudar sua estratégia. Certa vez, em plena
luz do dia, todas se arrumaram a rigor e foram visitar nada mais nada
4 A discussão acerca da
construção da
subjetividade e sua
relação com as
interações abarcam um
campo muito amplo de
disciplinas e autores,
com destaque para
Freud, de cuja obra
parte substantiva de
tudo que se escreve em
nossos dias sobre o
assunto é em parte
tributária. No entanto,
em função das
limitações do autor e
restringindo-nos às
necessidades mais
imediatas de nossa
argumentação, nos
fixaremos apenas nas
abordagens mais
propriamente
filosóficas da questão
e, entre elas, aquelas
relacionadas às
principais vertentes
hermenêuticas da
filosofia
contemporânea.
5
LOURO, G. L.
Comunicação pessoal.
In: SEMINÁRIO
VIOLÊNCIA
ESTRUTURAL,
DESIGUALDADE
SOCIAL E
VULNERABILIDADE
FRENTE AO HIV/
AIDS. Rio de Janeiro,
2000.
19
PRÁTICAS EDUCATIVAS E PREVENÇÃO DE HIV/AIDS...
Interface - Comunic, Saúde, Educ, v6, n11, p.11-24, ago 2002
menos que o Batalhão da Polícia Militar da região. A entrada do grupo, como
cidadãs plenas, fazendo ecoar no pátio de entrada o barulho dos seus saltos
altos, rumo ao gabinete do comandante para uma audiência, deixou
paralisados os soldados. Paralisados mas solícitos. Dentro de pouco tempo
estavam todos sentados, tomando um cafezinho oferecido pelo comandante,
discutindo a melhor forma de solucionarem os impasses de sua difícil
convivência.
O que o exemplo mostra é que mesmo identidades socialmente tão
distintas e conflituosas, como as de policiais e travestis, podem ser
reconstruídas em contextos de encontro diversos. Aqui fez toda a diferença
o espaço físico, a luz do dia e a nova situação geradora da presença de um
diante do outro. O mesmo raciocínio pode ser estendido a outros processos
conformadores de identidades, centrais no controle da epidemia de Aids,
como a exclusão social, as relações de gênero, a violência etc.
Caminhos a percorrer
Por tudo o que já foi dito, parece claro que estão postas algumas sugestões
de como enfrentar os desafios da prevenção da Aids em nossos dias. Em
primeiro lugar, deve ser enfatizado que talvez já seja a hora dos educadores
pensarmos nossas estratégias de prevenção menos em termos do grupo
populacional objeto de nossa intervenção e muito mais no que podemos
chamar de “contextos de intersubjetividade”. Parece, com efeito, mais e mais
sem sentido falar de prevenção para determinadas “populações-alvo”. São
modalidades particulares de encontro o que melhor define o que se deve e se
pode esperar da intervenção.
A assunção de identidades (e práticas) intersubjetivamente construídas
obriga a repensar não só espaços e estratégias de intervenção, mas também
os contextos intersubjetivos nos quais se efetiva a vulnerabilidade ao HIV
das pessoas com quem queremos trabalhar. Para exemplificar, uma
população de jovens pobres, mas que vivam em uma comunidade onde a
preocupação pública com sua exposição ao HIV seja ativamente expressa em
ações de assistência à saúde, educação e suporte social de modo geral,
estatal ou não, pode estar muito menos vulnerável que outra, de jovens
economicamente mais favorecidos, mas na qual a ameaça da epidemia não
tenha visibilidade ou resposta política. De outro lado, ainda que
considerando que a pobreza é um poderoso determinante de
vulnerabilidade, é preciso considerar que, mesmo em populações pobres há
diferenciais internos de extrema relevância, por exemplo, grau de
escolarização, cultura religiosa, origem étnica, aspectos que, vistos na
dinâmica conformadora de intersubjetividades, devem sempre ser
considerados.
Definir contextos intersubjetivos geradores de vulnerabilidade e, de modo
articulado, contextos intersubjetivos favoráveis à construção de respostas
para a redução dessas vulnerabilidades constitui, portanto, um dos mais
novos e decisivos desafios para a prevenção.
Quanto a este aspecto, seria interessante destacar a importância de se
considerar ainda a presença, conhecida ou não, de pessoas vivendo com Aids
20
AYRES, J. R. C. M.
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entre aqueles com quem se vai trabalhar. Estejam estas explicitamente
postas ou não, uma efetiva compreensão das necessidades e potencialidades
das pessoas vivendo com HIV e Aids nas diversas comunidades é
extremamente relevante para potencializar coalizão e solidariedade ou, em
caso negativo, alimentar isolamento e indiferença. De outro lado, não se
pode esquecer que a vulnerabilidade que levou os indivíduos a se infectarem
não desaparece, embora, às vezes, se modifique um pouco, em função da
nova condição. Os soropositivos não vivem em outro mundo. Seus contextos
de interação intersubjetiva permanecem muito pouco alterados em relação à
situação em que se infectaram, especialmente se recebem uma atenção à
saúde que se limita ao tratamento medicamentoso, deixando de lado o
cuidado com a qualidade de vida, de forma mais ampla (ECI, 2001).
Por isso, os espaços de tratamento também precisam ser pensados
simultaneamente como espaços de prevenção. Talvez a estratégia mais
sensível para detectar contextos vulnerabilizadores e possibilidades de
construção de respostas sociais seja trabalhar mais conseqüentemente, e sob
os novos enfoques acima citados, a questão da prevenção secundária.
Outro desafio importante é a efetiva substituição da atitude modeladora
por uma atitude emancipadora nas práticas educativas; deixar de ser
detentor do saber e passar a ser mediador para o saber. Aqui também a
idéia de contextos de intersubjetividade pode ser útil. Pensar qual o contexto
mais favorável à simetria entre educador e educando, ao efetivo
compartilhamento de problemáticas e à criatividade individual e comunitária
na busca de soluções, e escolhê-los como estratégia frente a outros mais
facilmente modeladores, é um modo de enfrentar este desafio.
Sem lançar mão exatamente desse conceito, as práticas preventivas têm
recorrido com sucesso à educação por pares. É possível que uma das
explicações desse sucesso seja o fato de que este tipo de interação
intersubjetiva seja mais favorável a uma educação emancipadora, não só
devido à maior tendência à não imposição de modelos, pela maior chance de
simetria entre educador e educando, mas também porque valores, projetos e
obstáculos são mais facilmente compartilháveis. Portanto, não parece se
tratar apenas de uma maior “facilidade de comunicação”, como se costuma
pensar, mas de um maior compartilhamento de experiências,
principalmente.
Migrar do risco para a vulnerabilidade, como já foi apontado, é outro
importante desafio. Em termos bem sintéticos, trata-se de não centrar as
políticas, programas e ações tanto em grupos identitários, ou grupos de
risco, mas nas relações socialmente estabelecidas entre os diversos grupos
populacionais e suas interdependentes e cambiantes identidades. Por outro
lado, não tratar as práticas que expõem as pessoas ao HIV e ao adoecimento
por Aids como fruto exclusivo da vontade e do grau de esclarecimento dos
indivíduos, mas ver os comportamentos como a resultante final de um
conjunto de condições estruturais e contextuais de onde essas práticas
emergem.
É por isso que, sem desprezar as informações trazidas pelos indicadores
epidemiológicos e as associações probabilísticas, é preciso orientar as ações
por subsídios que não se restrinjam às “evidências” epidemiológicas e por
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PRÁTICAS EDUCATIVAS E PREVENÇÃO DE HIV/AIDS...
Interface - Comunic, Saúde, Educ, v6, n11, p.11-24, ago 2002
ações que não se limitem a apostas na informação/modelagem dos
indivíduos. É preciso um saber interdisciplinar, uma ação intersetorial e uma
retro-alimentação de ambas por avaliações que tomem menos o econômico e
o técnico, em sentido estrito, e mais os valores e os Direitos Humanos como
forma de nos perguntarmos e respondermos à questão primordial: estamos
fazendo a coisa certa?
Por fim, cabe lembrar que nenhum dos caminhos apontados para o
enfrentamento dos desafios da prevenção pode se apoiar na estratégia do
terror. Com o terror não há o necessário diálogo entre os sujeitos; não há
intersubjetividade criadora que se estabeleça; não há a politização e
subjetivação dos comportamentos.
Alternativas ao terror já vêm sendo desenvolvidas com sucesso pelo
Programa brasileiro. As campanhas de Carnaval são um bom exemplo de
como se pode fazer campanha educativa sem terror. Mas para além do
Carnaval, as ações que, direta ou indiretamente, a Coordenação Nacional de
DST/AIDS sustenta têm, em grande medida, privilegiado o recurso ao lúdico,
ao erotismo e à problematização das diversas situações cotidianas nas quais
o problema da vulnerabilidade à infecção se manifesta e este parece ser um
dos segredos dos êxitos alcançados no campo da prevenção no Brasil.
Para concluir
O conjunto dos aprendizados e desafios arrolados é fruto de uma
experiência contundente que irrompeu em uma Saúde Pública que, já quase
ao final do século XX, parecia não ter mais com o que se surpreender,
especialmente nos países industrializados. Erros e acertos, de um lado, e
desafios e utopias de outro, dispostos assim numa discussão tão sumária,
podem obscurecer a complexidade e dificuldade enormes dessa experiência.
Por isso é preciso que se advirta que o caráter quase-esquemático que
propositalmente se assumiu aqui não deve ser confundido com pedantismo
crítico ou, inversamente, com ingênua candura.
Com efeito, o inventário dos conceitos e práticas em educação preventiva
aqui realizado não se propôs a ser exaustivo, nem haveria espaço para se
entrar em sutilezas na apreciação crítica de cada um deles. Assim, um
simplismo a contragosto ao tratar dessas experiências e proposições não
significa uma desqualificação rápida e presunçosa do valor e das motivações
do trabalho de todos quantos têm estado envolvidos em ações preventivas
nesses anos todos. A proposta foi tão somente mapear algumas das
tendências principais do desenvolvimento dessas ações, de modo já
interessado naquelas que, ainda que pela negativa, trouxeram aportes para
críticas e reconstruções que se julgou de maior interesse ou novidade.
Destaque-se, por outro lado, que, ainda que repudiando vigorosamente o
simplismo, a busca da simplicidade foi, esta sim, um valor que orientou este
ensaio. Mas, não se a confunda com busca do conforto do fácil, nem com a
suposição, cândida, de que um tema como o tratado coubesse docilmente
num ensaio de uma dezena de páginas. O que se quis evitar a todo custo foi
o vício de associar inexoravelmente o poderoso ao grandioso, o complexo ao
inacessível, o difícil ao indizível, o utópico ao inalcançável. Buscar traduzir o
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AYRES, J. R. C. M.
Interface - Comunic, Saúde, Educ, v6, n11, p.11-24, ago 2002
poderoso, complexo, difícil e utópico em formulações simples, mais que uma
estratégia comunicacional, pretendeu ser uma atitude filosófica, a busca de
uma perspectiva de análise que se colocasse ativamente em estreito contato
com os significados mais inadvertidamente impressionantes das
despretensiosas narrativas que constituem a “crônica” cotidiana da
epidemia.
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PRÁTICAS EDUCATIVAS E PREVENÇÃO DE HIV/AIDS...
Interface - Comunic, Saúde, Educ, v6, n11, p.11-24, ago 2002
AYRES, J.R.C.M. Prácticas educativas y prevención de HIV/SIDA: lecciones aprendidas y
desafíos actuales, Interface _ Comunic, Saúde, Educ, v.6, n.11, p.11-24, 2002.
La prevención ha sido una cuestión crucial para los programas de control del SIDA. Los
enormes progresos del conocimiento y de la técnica en este campo no llegaron a alterar
sustantivamente los determinantes fundamentales de la infección y el proceso de
enfermedad de significativos contingentes poblacionales. Este ensayo pretende sistematizar
las lecciones que aprendimos del campo de la prevención en estas dos décadas de epidemia,
tomando como base, especialmente, la experiencia brasileña. Se juzga que fueron
básicamente cuatro las grandes lecciones aprendidas: a) el terrorismo no funciona; b) el
riesgo es un concepto útil, pero limitado; c) la prevención no se enseña (sino que se
aprende); d) no somos sin un Otro, somos inmediatamente intersubjetividades. Las
implicaciones de estas lecciones para nuestras estrategias de prevención son, en síntesis: a)
que debemos pensarlas menos en términos de “grupos poblacionales” y mucho más en lo
que podemos llamar de “contextos de intersubjetividad”; lo que significa, delimitar espacios
de interacción (sociales, culturales etc.) generadores de vulnerabilidad y, de forma
articulada, los contextos intersubjetivos favorables a la construcción de las respuestas para
una reducción de esas vulnerabilidades; b) la efectiva substitución de la actitud modeladora
por una actitud emancipadora en nuestras prácticas educativas; c) no centrar las políticas,
programas y acciones en los grupos de riesgo o en los comportamientos de riesgo, y sí
hacerlo en las relaciones socialmente establecidas entre los diversos sujetos sociales y sus
interdependientes y cambiantes identidades.
PALABRAS CLAVE: Síndrome de inmunodeficiencia adquirida; educación en salud.
Recebido para publicação em: 29/04/02. Aprovado para publicação em: 04/07/02
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HIV positivos superam os desafios

Com os avanços da medicina e o tratamento universalizado em Campinas, soropositivos convivem há décadas com o vírus 

 Com 100% de cobertura no tratamento de soropositivos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Campinas tem hoje pessoas que vivem bem há mais de duas décadas portando o vírus da aids. Os dados do Programa de Municipal de DST/Aids apontam que a epidemia da doença está estabilizada desde 2006 e a cidade tem hoje o menor índice de mortalidade dos últimos 20 anos. Para especialistas, isso quer dizer que cada vez mais as pessoas estão se conscientizando da importância do diagnóstico e tratamento, o que aumenta a expectativa e a qualidade de vida dos soropositivos campineiros.


“No ano 2000, a cidade teve um pico grande de casos, mas isso porque o diagnóstico também estava aumentando. Com mais diagnósticos, as pessoas passaram também a se tratar mais cedo e de forma mais adequada”, explicou a coordenadora do Centro de Referência do Programa Municipal de DST/Aids, a médica infectologista Cláudia Barros Bernardi. Em 1995, o número de pessoas que morriam em decorrência da aids era de 22,04 por 100 mil habitantes. Esse índice teve uma queda vertiginosa nos últimos 15 anos e foi de 5,34 em 2009.
Já os números de novos casos é considerado estável há quatro anos. Foram 262 em 2006 e 212 em 2010. A coordenadora destaca que os números do ano passado são preliminares e estão sujeitos a alteração, mas os dados dos últimos anos mostram que o município está com a epidemia de HIV estabilizada. “No gráfico, desde meados dos anos 2000 temos uma linha reta de novos casos. Isso quer dizer que não tivemos aumento significativo nem uma diminuição da incidência relevante”, disse.

Quando o assunto é a incidência entre jovens e adolescentes, Campinas vai na contramão da tendência no País: o número hoje na cidade é menor do que há dez anos. No total, Campinas tem atualmente 25,4 jovens infectados por grupo de 100 mil habitantes. Em 2000, eram 51. “Não só em Campinas, como em todo o Estado de São Paulo, os números são diferentes do que na média geral brasileira. Isso porque o Norte e, principalmente, o Nordeste, onde tivemos o maior aumento do HIV entre os jovens, não contabilizavam muito as estatísticas na década de 90. Agora, o controle de casos é muito maior em todo País”, explicou a infectologista.

Longevidade
A facilidade em se obter o diagnóstico em Campinas foi um fator importante no aumento das chances de tratamento precoce da doença e, consequentemente, da longevidade dos indivíduos com aids, disse o infectologista do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Francisco Aoki. “O diagnóstico cedo facilita em tudo. A pessoa é encaminhada para um especialista, monitorada, tratada e medicada, quando há a necessidade. Isso sem dificuldade, pelo SUS. Basta as pessoas procurarem”, afirmou.

HIV - Desafios da medicina moderna

Um dos grandes desafios da medicina moderna é o desenvolvimento de vacinas e novos tratamentos para a Aids. Hoje, o HIV – vírus causador da doença – infecta cerca de 33 milhões de pessoas em todo o mundo. Os avanços mais recentes das pesquisas nessa área e as dificuldades encontradas pelos cientistas foram o tema do primeiro programa da nova temporada do Estúdio CH, publicado originalmente em 25 de março de 2009.
Para abordar o assunto, ouvimos o geneticista Amílcar Tanuri, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro que tem acompanhado a evolução das pesquisas sobre Aids no mundo nos últimos anos. Em entrevista a Mariana Ferraz, ele falou sobre os progressos no tratamento da doença e a importância da prevenção.
Segundo Tanuri, o tratamento da Aids vem evoluindo bastante. Ele destaca a criação de novas classes de drogas e o uso de técnicas de farmacologia avançadas, que permitiram uma grande redução no número de comprimidos a serem tomados pelos portadores de HIV.
No entanto, o sucesso do campo terapêutico não é compartilhado pelas iniciativas de desenvolvimento de vacinas contra o HIV, que esbarram em dificuldades inerentes às características do vírus. Por outro lado, Tanuri ressaltou o crescimento do interesse na prevenção por meio de drogas, como os microbicidas, e destaca os bons resultados das pesquisas brasileiras nessa área.

terça-feira, 6 de março de 2012

Texto sobre a CF 2012

Campanha da Fraternidade 2012: Saúde Pública


Campanha da Fraternidade 2012: Saúde Pública - Estimados companheiros e companheiras de caminhada da Pastoral da Saúde: É com enorme satisfação e o coração cheio de alegria, com lágrimas de felicidade, que lhes comunico sobre a escolha UNÂNIME por parte do CONSEP da CNBB para a Campanha da Fraternidade 2012 no Brasil sobre a "Saúde Pública". A votação e escolha foi na manhã desta quarta-feira (23/06) na sede da CNBB em Brasília. Só para o vosso esclarecimento, ontem (22/06) estivemos presente na reunião do CONSEP em Brasília para uma articulação estratégica com os bispos da Presidência da CNBB e do restante do CONSEP, além de articularmos com todos os assessores dos regionais da CNBB e assessores da própria CNBB, presentes naquela reunião. Foi um sucesso!
Só ouvimos elogios pela idéia e pela enorme articulação do abaixo assinado. Quero ressaltar e agradecer publicamente a ajuda e o apoio especiais da Irmã Delci e do Pe. Luiz Carlos (ambos assessores da CNBB) e de Dom Dimas (Secretário Geral da CNBB), e dizer que esta escolha não foi fácil. Havia mais de 15 temas propostos (oriundos dos regionais da CNBB, da Cáritas Brasileira e Pastoral da Mobilidade Humana) e o nosso foi um deles. Mas no final, pasmem, a escolha foi UNÂNIME e obtivemos 9 votos a favor e nenhum contra pelos bispos do CONSEP e Presidência da CNBB.
Quero ressaltar que não só nos dois últimos 2 dias, em Brasília, mas na última semana, com bastante articulação dos companheiros da Coordenação Nacional (Sebastião e Clemilde), conseguimos compor um bloco de 12 entidades, movimentos e pastorais que apoiaram a nossa causa. São eles(as): Comissão Brasileira de Justiça e Paz; Grito dos Excluídos Continental; Ibrades; Movimento em Defesa dos Direitos Sociais; Pastoral Carcerária; Pastoral da AIDS; Pastoral da Criança; Pastoral da Mobilidade Humana; Pastoral da Mulher Marginalizada; Pastoral da Pessoa Idosa; Pastoral da Sobriedade; Pastoral Operária, dentre outros(as). Obrigado a todos e a todas!
Ainda em tempo, entregamos formalmente, ontem (22/06), o nosso abaixo assinado à CNBB (para o Pe. Luiz Carlos - responsável pela CF da CNBB). Atingimos a fantástica marca de 142.352 assinaturas. Parabéns a todos nós que soubemos articular bem os nossos coordenadores (arqui)diocesanos e/ou locais e consequentemente os nossos agentes, verdadeiros responsáveis por esta vitória.
Ainda não fui informado qual será o tema definitivo (Fraternidade e Saúde Pública ou Saúde: questão de prioridade) e ainda não foi escolhido o lema (será em agosto, na próxima reunião do CONSEP!). Mas a decisão pelo tema já foi tomada e apoiada por todos!
Meus caros companheiros, acho que hoje está sendo um dia muito especial para todos nós e compartilho cada instante deste dia maravilhoso com todos vocês e com todos os nossos agentes da Pastoral da Saúde. Somos muitos grato pelo esforço de cada um que acreditou neste projeto e o êxito incontestável com a escolha da CF 2012 mostra que o nosso trabalho pastoral nunca pode parar e devemos sempre acreditar, mesmo que o nosso sonho seja algo difícil de acontecer!
Acreditamos, fizemos e agora vamos fazer uma breve comemoração, mas temos que frisar que a nossa responsabilidade agora se multiplicará de maneira exponencial. Temos muito trabalho pela frente e contamos com cada um de vocês! Quero lembrar que em 2012 teremos eleições municipais em todo o país, portanto a saúde se tornará ponto de discussão obrigatória para todos os candidatos e nós, juntos, vamos fazer isto acontecer! Parabéns!!
Obrigado e Saúde e Paz!


André Luiz de Oliveira
Coordenador nacional da Pastoral da Saúde

Oração da CF 2012

Senhor Deus de amor,
Pai de bondade,
nós vos louvamos e agradecemos
pelo dom da vida,
pelo amor com que cuidais de toda a criação.

Vosso Filho Jesus Cristo,
em sua misericórdia, assumiu a cruz dos enfermos
e de todos os sofredores,
sobre eles derramou a esperança de vida em plenitude.

Enviai-nos, Senhor, o Vosso Espírito.
Guiai a vossa Igreja, para que ela, pela conversão
se faça sempre mais, solidária às dores e enfermidades do povo,
e que a saúde se difunda sobre a terra.

Amém
.

Explicação do Cartaz da CF 2012


 
Cartaz




 


Apresentação: O cartaz da CF 2012



O cartaz atualiza o encontro do Bom Samaritano com o doente que necessita de cuidado (Lc 10,29-37). A mão do profissional da saúde, segurando as mãos da pessoa doente, afasta a cultura da morte e visibiliza a acolhida entre irmãos (o próximo). A Igreja como mãe, em sua samaritanidade, aproxima-se e cuida dos doentes, dos fracos, dos feridos, de todos que se encontram à margem do caminho.

O profissional de pé, o enfermo sentado, olhos nos olhos, lembram o compromisso e a dedicação do profissional da saúde, no processo de cura do paciente, e a confiança do doente naquele que o acolhe e cuida. A acolhida e o cuidado aliviam a dor, estabelecem uma relação de confiança decisiva para a cura e superação das barreiras sociais.

A cruz, que sustenta e ilumina o sentido do cartaz, recorda a salvação que Jesus Cristo nos conquistou. Ela ilumina a vida humana, a morte, as dores, o sofrimento das pessoas sem assistência de saúde. No entanto, é ela também que ilumina o encontro entre o profissional da saúde e o doente, pois aponta para a esperança da transformação completa: um novo céu e uma nova terra.

A alegria do encontro retratado no cartaz recorda aos profissionais da saúde que foram escolhidos para atualizarem a atitude do Bom Samaritano em relação aos enfermos. Mobiliza os gestores do sistema de saúde a se empenharem para possibilitar atendimento digno e saúde para todos. Que a saúde se difunda sobre a terra.