Fatores
biológicos e sociais têm contribuído para acentuar o risco de contágio
do vírus HIV entre as mulheres, segundo a Unaids (a agência da ONU para a
Aids).
"As mulheres têm uma
vulnerabilidade adicional ao vírus HIV", disse Nina Ferenci,
coordenadora da Unaids para a América Latina e o Caribe.
"Por um lado, estão a desigualdade e a dependência sócio-econômica. Por outro, a vulnerabilidade biológica."
De
acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), as
mulheres são de duas a quatro vezes mais vulneráveis do que os homens em
relação à infecção do vírus da Aids.
Durante a relação sexual, o vírus é transmitido com mais facilidade do homem para a mulher do que da mulher para o homem.
Fatores biológicos
O tecido da vagina e do reto é muito mais vulnerável ao contágio do que o tecido que cobre o pênis.
Além
disso, a superfície de contato da mulher é muito maior, como explica
Nina: "Em uma relação sexual, a mulher tem um contato estendido com os
fluidos seminais, o que leva à maior probabilidade de infecção".
Por
essa razão, continua Nina, é importante desenvolver métodos de proteção
contra o vírus da Aids que possam ser controlados pela mulher.
"Em
muitos casos, o homem se nega a usar preservativos, e muitas mulheres
têm consciência que estão se expondo ao risco, mas não podem impor o uso
da camisinha a seu parceiro", disse a coordenadora da Unaids.
"Estamos
tratando de fomentar o desenvolvimento de certos métodos que a mulher
possa controlar, como microbicidas, uma espécie de creme vaginal que
pode matar o vírus, ou camisinhas internas femininas."
Fatores sociais
Para
Nina, a epidemia de Aids expõe justamente os problemas diários que
mulheres enfrentam, como, por exemplo, a dependência econômica.
"Em
muitos países, a mulher depende economicamente do homem e, muitas
vezes, isso leva a uma situação em que ela tem menos possibilidades de
negar a relação sexual."
Em muitos locais, é inaceitável que as mulheres digam "não" a relações sexuais não desejadas ou sem proteção.
"A pobreza junta-se com a situação de desvantagem social da mulher para criar mais vulnerabilidade", alerta Nina.
"Há
o machismo, os tabus e os aspectos culturais. Por exemplo, se uma
garota leva uma camisinha, ela é considerada uma mulher fácil."
Na
sua avaliação, esses "padrões culturais" são difíceis de serem
manejados e duram muito tempo para serem mudados, já que estão em vigor
há séculos.
Há ainda a questão do tratamento, ao qual os homens têm maior acesso, assim como a distribuição de medicamentos.
O
alerta para a "feminização" da Aids foi feito pelo secretário-geral da
ONU, Kofi Annan, em meio às comemorações ao Dia da Mulher, em março
deste ano.
Segundo a Unaids, desde 2002, o número de mulheres infectadas com HIV aumentou em todo o mundo, sem nenhuma exceção.
Na África, onde a epidemia está muito avançada, mais de 56% das pessoas infectadas são mulheres.
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