(Getty Images)
As famílias brasileiras financiam a maior parte das despesas de saúde
no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Do total gasto em 2007, cerca de 128 bilhões de
reais (57,4%) vieram dos bolsos dos cidadãos, ante 93 bilhões de reais
(41,6%) provenientes do setor público.
O problema é que tanto o serviço público quanto o privado desafiam a
saúde e o folêgo dos brasileiros. O maior estorvo, é claro, está no
atendimento oferecido pelo governo. De acordo com levantamento realizado
junto a secretarias de saúde de sete capitais (São Paulo, Rio de
Janeiro, Salvador, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba), ao
menos 171.600 pessoas estão na fila para fazer uma cirurgia eletiva -
procedimento agendado, que não possui característica de urgência. A
demora para a realização de um procedimento ortopédico, por exemplo,
pode levar até cinco anos.
A qualidade do serviço também é influenciada pela insatisfação dos
médicos que trabalham para o Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com
o Instituto Brasileiro para Estudo e Desenvolvimento do Setor de Saúde,
em média, a remuneração dos profissionais da área pública é metade da
paga pela privada. Em alguns casos, a diferença é exorbitante: uma
equipe de seis profissionais recebe 940 reais do SUS por cirurgia,
enquanto receberia até 13.500 reais dos planos de saúde.
Diante do caótico quadro da saúde pública, os brasileiros se esforçam
para manter planos privados. Atualmente, 26,3% da população - ou 49,1
milhões de pessoas - compromete parte da renda para ficar longe dos
hospitais públicos. O desafio é manter as contas em dias à medida que
envelhecem. Aos 60 anos, um assegurado pode ter que desembolsar mais de
700 reais para manter um plano básico, suficiente apenas para ocupar um
leito de enfermaria ao lado de outros pacientes, em caso de internação.
E as perspectivas não são boas. De acordo com estimativa realizada pelo
Idec e pelo Procon, se mantidas as atuais condições de reajustes, nos
próximos 30 anos, os planos de saúde deverão sofrer reajustes 126,67%
acima da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA). Em outras palavras, esse serviço se tornará proibitivo para boa
parcela da população que hoje o possui.
Por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o governo já
tentou regular os preços dos planos, colhendo alguns fracassos. E nada
indica que futuras intervenções obteriam resultado diferente. E isso tem
uma razão simples: as operadoras de saúde são empresas que realizam
investimentos em tecnologia, estrutura e pessoal, contraem despesas e
precisam honrar suas contas a cada final de mês. Elas estabelecem um
valor a seus serviços levando em conta o custo deles e os preços de
mercado. Portanto, pretender decretar o quanto essas companhias deveriam
cobrar é uma medida que desafia razões elementares de mercado - em,
outras palavras, briga com a realidade.
Frente a esse quadro, cresce ainda mais a importância da discussão
acerca do sistema público de saúde - alimentado com o dinheiro que sai
do bolso do contribuinte. Mas que, em geral, não trata bem esse cidadão.
Durante esta semana, VEJA.com vai analisar a realidade do sistema
público de saúde, ouvindo especialistas e as campanhas presidenciais,
para saber, afinal, que Brasil os candidatos pretendem construir nos
próximos quatro anos.
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