Conheça as promessas dos presidenciáveis para a saúde
Daniel Jelin
Especialistas comentam as propostas dos candidatos Dilma Rousseff (PT),
José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) para a saúde. Confira e assista a
trechos da propaganda eleitoral.
MUTIRÕES
O tucano José Serra foi quem mais promessas fez para o setor de saúde,
em boa parte baseado em sua própria experiência como ministro, prefeito
ou governador. Uma delas é a volta dos mutirões, um dos marcos de sua
gestão no governo Fernando Henrique Cardoso. Ao vice-presidente do
Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital Corrêa Lima, a proposta
agrada - mas apenas como forma de cumprir a curto prazo uma demanda
pontual: cirurgias de catarata e hérnia, por exemplo. Corrêa Lima avisa
que mutirões não devem substituir planejamento. “Em saúde, nada que é
feito em grande escala num curto espaço de tempo é muito recomendável”,
diz. Marcos Bosi Ferraz, diretor do Centro Paulista de Economia da
Saúde, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) concorda. No curto
prazo, são aceitáveis, mas "sistemas de saúde não podem depender de
'mutirões', porque eles atestam a ineficiência da priorização, do
planejamento e das políticas públicas".
MEDICINA ESPECIALIZADA
Serra defende a criação de ambulatórios de medicina especializada à
maneira dos 32 que criou à frente do governo estadual. O tucano promete
para o país exatos 154 deles, com capacidade para 27 milhões de
consultas/ano e 63 milhões de exames/ano. Em maio, sem falar em números,
a petista Dilma Rousseff também defendeu a criação destas clínicas. A
atenção dos candidatos reflete um conhecido gargalo da saúde pública: as
longas filas para consultas e exames com especialistas. “Com certeza
serviços ambulatoriais especializados são necessários”, diz Ferraz. Mas,
ressalva, “os números propostos dizem pouco sem uma clara consideração
de sua distribuição e integração com o restante dos equipamentos de
saúde”.
PRONTO-ATENDIMENTO
Dilma promete construir 500 Unidades de Pronto-Atendimento, com foco
nos casos de urgência simples. É uma estratégia para desafogar os
pronto-socorros. Cumprir esta promessa exige investimento de 1,3 bilhão
de reais. Seu alto custo fez com que, ao longo do governo Lula, fossem
construídas apenas 77 delas.
VACINAÇÃO
Serra também promete duplicar a campanha de vacinação de idosos contra
gripe e a inclusão de crianças. Corrêa Lima aplaude: “É importante
corroborar iniciativas de sucesso, como as campanhas de vacinação e o
programa dos transplantes, que viraram referência”, diz. Ferraz lembra
as limitações orçamentárias: “A princípio qualquer ampliação de
programas preventivos pode ser justificável. A grande questão não
respondida envolve priorização de um problema de saúde entre várias
opções para o uso do escasso e finito recurso.” Ele cita a importância
de outros programas preventivos, como o de detecção de modalidades mais
freqüentes de câncer, que competem pela mesma verba.
APOIO À GESTANTE
Em mais uma promessa baseada em sua experiência em São Paulo, Serra
promete criar o programa de apoio à gestante Mãe Brasileira, à maneira
do Mãe Paulistana. É uma ideia de baixo impacto orçamentário que
pretende estimular a futura mãe a se submeter a pelo menos seis exames
pré-natais no SUS. Como incentivo, as gestantes ganham um enxoval e
recebem acompanhamento médico até o bebê completar um ano.
ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
Ao falar dos medicamentos genéricos, incentivados por lei aprovada
durante sua gestão como ministro, o candidato tucano prometeu
“turbiná-los” e criar “uma cesta de remédios gratuitos com cerca de 80
medicamentos para serem distribuídos por meio dos municípios”. Dilma,
sem dar números, também prometeu ampliar a oferta de remédios gratuitos e
investir no Farmácia Popular, que subsidia medicamentos para a
hipertensão e o diabetes em até 90%. E a candidata do PV, Marina Silva,
fala em incentivar “o uso de tratamentos e métodos mais simples, baratos
e tradicionais (culturais) como a fitoterapia, a acupuntura e a
reeducação alimentar”.
Os candidatos miram um tema caro ao eleitor – basta lembrar que, mesmo
limitado, o Farmácia Popular chegou a ser o programa mais bem avaliado
do governo Lula, à frente do Bolsa Família. Mas a relação de remédios é
só a ponta da assistência farmacêutica. O desafio é, antes, logístico e
financeiro. “Já temos uma lista de medicamentos ‘essenciais’, outra de
medicamentos ‘estratégicos’ e mais recentemente criamos uma para os
‘especializados’, que deveriam ser distribuídos gratuitamente e
regularmente”, diz Ferraz. “Tais listas envolvem muito mais do que 80
medicamentos. Precisamos é assegurar que os medicamentos listados sejam
atualizados periodicamente e estejam disponíveis regularmente”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário